Eu olho para você e você me
diz que sou desnecessariamente agressivo.
Que sou exagerado. Que o
amor que sinto não é natural. Que meu corpo, tão fabricado quanto o seu, é uma
aberração. Diz que vou contra as leis da natureza, contra as leis de um livro
que justifica seu desprezo.
Eu olho para você, e você se
sente superior a mim por causa da cor da sua pele, ou por causa das pessoas que
pensa que eu deveria amar.
Eu olho para você, você me
olha de volta e ri. Ri da minha língua e dos meus costumes, violenta meu corpo
e minha forma de existir.
Eu olho para você, e você
banaliza meu trabalho, me chama de vagabundo, me nega direitos essenciais, me
oferecendo as sobras: para você eu posso até existir, desde que destituído de
dignidade.
Eu olho para você, e tudo
isso que você faz e pensa sobre mim dói. E tem momentos que dói muito fundo.
Tão fundo, que as vezes vira a semente de uma arma. Sim. Em mim a dor vira
semente de faca. Elas germinam, e crescem, rompem minha pele e me afastam cada
vez mais de você.
Eu olho pra você, e mais
uma vez você me diz que sou desnecessariamente agressivo. E em certa medida
você tem razão.
No jogo idiota da
violência, minha estratégia de defesa as vezes vira tática de ataque. Mas eu
não quero isso.
Eu estou disposto a
desistir das minhas armas, mas em troca preciso que você jogue fora também suas
piadas e comentários jocosos.
Eu estou disposto a jogar
fora minhas facas, mas preciso que o abraço que você me dá, dizendo que me
respeita, seja sincero.
Eu estou disposto a olhar
para você e enxergar mais do que a imagem normatizada, que sua religião, mas
preciso que você faça o mesmo por mim.
Eu estou disposto a viver
nesse mundo junto com você, de verdade. E em algum lugar, ainda que muito
profundo, quero acreditar que você também está.
2 comentários:
Amei o teu texto, Ricardo. eu olho pra você e vejo um amigo valioso. Beijo.
amore, obrigado.
estamos juntes.
um beijo cheio de carinho.
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