terça-feira, 25 de outubro de 2011

Sugestão de um bom plano de fuga

Um planeta, um espaço, um universo imaginário. Um conjunto desenfreado de desejos. Comer e cagar a mesma comida. Mordida. Pelo cú e pela boca. Pela boca e pelo cú. Buraco, vão, uma distância, uma ausência. A sugestão de um bom plano de fuga. De bicicleta. Vó, vedete, ventania, ave. Ave Maria. Cadê? Aqui é sempre veloz, voluntarioso, vulcânico. Cigano. Veio da cigana: cachorros não gostam de gente ruim. Mais uma vez. Mais uma massa. Amassando mais uma massa. Família, fevereiro, futilidade, faca. Faca. Furar, ferir, ferido, fera. Fera ferida. Safadeza, selvageria, urgência, demência. Violência. Faca. Intensa, tensa, tesa. Tesão. Transformação. Um pé descalço, um olho, dois cotovelos e duas mãos. Minhas duas mãos de mãos dadas: muito prazer em conhecer-nos, eu vou bem obrigado. Um portão no muro de concreto (por onde agora passa uma borboleta amarela).

ele por ele no dia que é hoje.


Ele se equilibra entre suas monstruosidades que tem personalidade própria. As mais vivas são aquelas três crianças que passeiam por ali já faz tempo. A loirinha hábil em desejar e construir mundos fantásticos só dela, idealista, curiosa, ágil, mas confusa demais. E aqueles outros dois que ocupam lugares quase opostos: um, orgulhoso de ser quase um menino de verdade, continua enfrentando o mundo com seus jogos de palavras e seus esconderijos; o outro sem mantém orgulhoso de viver num mundo só dele e de manter o controle sobre situação e sobre seu caráter de bom moço.

Um dia alguém especial lhe disse que as melhores lembranças são aquelas que deixamos no dia a dia e que a vida é tudo aquilo que acontece enquanto nos preocupamos com planos futuros. E é mesmo. O que acontece é que a certa altura ele se da conta que aprendeu bem demais essas lições. Lida tão bem com uma coisa depois da outra a cada momento, que quase sempre chega perto do fim do desfiladeiro, olha pra baixo e ri.

E em meio a tudo isso, as vezes ele lembra que tem alguma coisa que dói e entre as estratégias que cria a mais recorrente é comer sonhos. Sim, ele come sonhos como placebo para diminuir a dor que ele não sabe de onde vem e nem onde está.

Sem sono e nem razão para o ter, há nele uma imensa vontade de dormir. Nessa hora ele percebe que já não sabe exatamente quem é e nem quantos já foi. Dentre as poucas coisas que ainda sabe sobre si, sabe que quando a música toca, alguma coisa começa.