segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009

eu-peito

Devia ter uns 9 anos de idade quando percebi pela primeira vez que meu peito é uma das regiões mais delicadas do corpo que sou. Estava brincando de gangorra com um pedaço velho de madeira que naturalmente se rompeu no meio do jogo me lançando direto para o chão. Na verdade quase para o chão, pois no meio do caminho tinha um caixote de madeira, que foi golpeado violentamente pela minha caixa torácica. Os segundos que seguiram esta cena foram de uma ordem ainda pouco conhecida na época: da ordem do desespero. Ar faltando, uma dor assutadora, impotência diante da situação. Passei dias com o peito dolorido, com dificulade para respirar. Vivo lembrando desses dias, e é uma lembrança física. Sinto as dores e as sensações daquela ocasião sempre que meu peito fica apertado. E agora não precisa de gangorra, nem de caixote. Meu peito aperta, se fecha e dói por ser minha comissão de frente, minha armadura. Eu-presença, eu-enfrentamento.

quinta-feira, 12 de fevereiro de 2009

castanho médio (o mais comum de todos os olhos)


Esse sou eu-olho, a materialização de meus desejos quase incontroláveis de ser outros, e outros.
As vezes sinto que transbordo pelos olhos.
Uso ele como meio de transporte para aquilo que quero tocar e não toco, aquilo que quero ser e não sou.
Um eu-projeção, que vive numa quase patética relação: cansado de mim e com medo da minha impotência diante do que sou e do que faço.
Um Ricardo em descompasso consigo, cronicamente a frente ou atrás de si.

terça-feira, 10 de fevereiro de 2009

Me revelo aos pedaços (ou sobre uma poética aoutofotográfica)


No processo de criação de meu último trabalho solo desevolvi diversas estratégias de ação que geraram também produtos também diversos. Um deles foi uma série de fotografias que batizei de "Me revelo aos pedaços (ou sobre uma poética autofotográfica)".


Tratam-se de fotos que tirei de pedaços de mim com a vontade de que revelassem coisas que eu precisava saber sobre meus infindáveis EUS e sobre meu trabalho. O que era uma ação acabou virando um material pelo qual continuo me interessando.

Ah, uma explicação importante. Falo de mim no plural há muito tempo. Para aqueles que se procupam quando são taxados de "duas caras", sedentos por acreditar numa única forma de ser, meu desalentador desabafo: tens muito mais que duas caras, és muito mais dois. És uma palheta de cores de matizes infindáveis, que se revelam e transformam o tempo todo. Deleite sua metamorfose ambulante!

Bem, o que pretendo fazer nos próximos dias é usar algumas destas fotos para falar de coisas e situações que hoje me inquietam, me movimentam, me atormentam, me assustam. Aquelas coisas que me tornam o que ESTOU (e não o que SOU, assim enraizado) agora. E agora.
Começo por essa, da minha boca.

Falo muito e falo alto. Como muito e quase todo tipo de comida. Viciado em roer as unhas e adorador de boas bebidas. Das ruins também (desde que alteradoras de percepção). Fácil perceber o quanto essa porta de saídas e entradas é fundamental naquilo que produzo e naquilo que enxergam de mim. Ela é metáfora e mitologia dos meus desejos e dos meus medos. É nela que materializo o que tenho vontade de comunicar, o que sussurro pra seduzir, o que grito para suportar (ou o que grito para acordar dos frequentes pesadelos).

Hoje é dela também que espero os beijos. Aqueles beijos.

Esse eu-boca é um dos eus que sinto mais urgentes e/ou primitivos, sensoriais, pouco controláveis. eu-boca que quer devorar mais e melhor no agora. e no agora. e no agora.

segunda-feira, 5 de janeiro de 2009

voltei movido pela tristeza.

Só isso.

Voltei.

Movido por uma daquelas tristezas que não tem nome.

Aquela que enche os olhos de lágrimas toda hora, faz o estômago embrulhar, e dói.